quinta-feira, 15 de outubro de 2009

OLHOS MAREJADOS JÁ NÃO CHORAM MAIS LÁGRIMAS

Tristeza é beber cerveja quente sozinho numa noite chuvosa e fudida/Absorver o presente fenomenologicamente por medo de nostalgia/ Tristeza é só chutar o balde já chutado pelo pé alheio/e manchar de seu sangue o plástico limpo/ Tristeza é aquela mancha velha de vômito no carpete conseqüência de outra Tristeza/ É uma mulher que te chupa mas nunca te faz gozar/ Tristeza é imaginar que lésbicas discutem semiótica/ É um poema inútil nascido de uma aula de literatura latina/ É aquela música lenta que te faz lembrar as flores que nuca recebeu/ Tristeza é o amor que se reconhece como tal/ Tristeza é a dicotomia da Tristeza/ É chorar pelo par de chifres que nunca se levou/(a Tristeza de Otelo e Bentinho)/ Tristeza é a forma mais ridícula de masturbação/ É a matéria mais clichê da poesia/É a arte mais clichê do ser humano/ Tristeza é a Tristeza do clichê/ Ou o clichê da Tristeza.

Heitor de Albuquerque,
Recife, 25/11/88