terça-feira, 8 de dezembro de 2009
Tomates
Em volta dos tomates uma sacola. Na ponta da sacola, uma mão. Continuado da mão, um braço. Colado ao braço, um corpo. Um corpo que anda. Um corpo feminino.
Porra, e eu aqui pensando na merda dos tomates.
P. G. Ferreira. Extraído do livro Diálogos melancólicos de um casto voyeur, 1989.
sábado, 14 de novembro de 2009
Do triste fim de Alberto Cigano ou Ripples never come back
- Margareth Feijó, sobre suposto caso com Cigano, 1970.
"Cigano, anjo de dúvida, amargura do meu triste trópico."
- Dedé Schinneider, Ilha da Punheta: sobre a poesia do 1º Cigano, São Paulo: Ática, 1986.
"Uma vez, após uma noitada nórdica, eu perguntei quem ia pagar a conta, e ele respondeu: 'Tua mãe Pedro, que ela tá me devendo da vez que eu comi aquela vaca velha!'. Ele era assim, um tremendo filho da puta."
- Pedro Noiado, discurso no velório de Cigano.
"O cara é muito foda."
- Antonio Candido, nota escrita à mão em um exemplar de Seulement Picarianismo, 1984.
"Cigano, mi soledad florece.
ah, beber tua boca na minha taça
de gardênias, Cigano, deus-cadela
- manhosa que só ela."
- Soberba de la Flor, A Origem da Tragédia, 1979.
"Ele veio me perguntar se eu já tinha lido The Anxiety of Influence, e eu o mandei à merda."
- Heitor de Albuquerque, entrevista à Veja, 1991.
"Veja Cigano, por exemplo: nele encontramos aquilo que há de mais picariano, essa morbidez crítica de se saber eternamente latinoamericano."
Chico Goldmann, O Picarianismo como vontade & como representação, 1990.
"Conheci Alberto como se conhece os maiores mestres: vendo filme de putaria."
- Pedro Gabriel Ferreira, comentando a videografia pornô dirigida por Cigano, 1997.
"Quem tira onda é eu."
- Alberto Cigano, Mulheres de minha vida, 1965.
domingo, 8 de novembro de 2009
Luto
O corpo foi encontrado jogado na sala de seu apartamento em Itamaracá-PE, junto com uma garrafa vazia de Gim, 5 garrafões vazios de 5 litros de Carreteiro, 7 carteiras vazias de cigarro Hollywood verde e duas carreiras de cocaína não-cheiradas.
O poeta não mantinha mais contato com quase ninguém, além do seu velho amigo Pedro Noiado. Bastante triste, o amigo disse que Cigano andava muito decepcionado com o mundo: “Ele me ligava bêbado no meio da madrugada dizendo ‘Pedroca, finalmente caí na real, Lennon tava certo, Zappa tava certo, Heitor tava certo, porra, até Nietzsche tava certo, só aquele alemão barbudo feladaputa tava errado, caralho!’”.
Contudo, Noiado afirma que nos últimos dias Cigano aparentava estar um pouco mais animado, já que os dois estavam organizando um novo livro de poemas, já em fase de pré-publicação. “Era um projeto muito bom, como há muito tempo não víamos acontecer por aqui em Recife”, disse Noiado. Este afirma não saber se algo aconteceu para que Cigano tivesse entrado em depressão.
A causa da morte ainda não foi oficialmente confirmada, embora tudo leve a crer que se trata de uma overdose de vinho barato.
Junto com o corpo foi encontrado fragmentos do novo livro que estava escrevendo com Noiado e um roteiro já pronto de um filme pornô, provavelmente sua nova produção como diretor.
O Macaxeira Semiótica termina este triste post com o seu poema favorito de Cigano:
Autobiografia
Meu avô bordava rostos de Cristo em toalhas de mesa.
Minha avó bebia cachaça e ia jogar na roda de capoeira.
Dessa mistura improvável veio eu, tosco e mágico, feito chocalho de pajé.
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Premissas
.Elevar o escatológico ao escatológico
.Nunca me chame pelo nome se não for
um nome de medo
.Casa Grande & Senzala
(Pós)Picarianismo ou Da eterna querela entre antigos & modernos
Chico Goldmann, O Picarianismo como vontade & como representação. In: Tempo Picariano, n.16, 1990, p. 267-299.
"...lavemos o rosto no futuro, que o céu é sucessivo."
Soberba de La flor, O Primeiro Caderno de Poesia da Aluna Soberba.
"O problema todo é que ninguém me perguntou que ramo das devassidões eu prefiro...[risos]"
Dedé Schineider, entrevista à Playboy, julho de 1989.
"Mas uma geração não tem tempo de sozinha queimar todas as gravatas."
Alberto Cigano, Epístolas Subcutâneas - A correspondência íntima de Alberto Cigano e Margareth Feijó (1962-1970).
"Fato é que jamais declino de amar o espaço machucado."
Heitor de Albuquerque, Mémoires.
“Aos epígonos não têm ficado mais que encarniçar-se em demolir o que já está em ruínas. Eu quero ver é cosmogonia.”
Anônimo, Manifesto Picariano, 2ª edição revista e ampliada.
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
OLHOS MAREJADOS JÁ NÃO CHORAM MAIS LÁGRIMAS
Heitor de Albuquerque,
Recife, 25/11/88
segunda-feira, 11 de maio de 2009
GRANDES FILMES PICARIANOS 1
Produção: Brasil/Vaticano
Ano: 1968
Idioma: Português
Legendas: Mandarin, Croato, Persa e Português.
Gênero: Drama/ Mainstream.
Direção: Alberto Cigano
Elenco: Renato Aragão, Kid Vinil, Antônio Cândido, Maitê Proença e Juscelino Kubitschek.
Duração: 253 min.
Sinopse: o filme conta a história de Jubileu, menino pobre que sai do interior sergipano para morar em São Paulo. Sem dinheiro, acaba parando em um beco da Augusta, onde se envolve com travestis, e logo aprende a arte do transformismo. Após ouvir um discurso de Fidel traduzido pelo Chacrinha, resolve entrar no movimento operário do ABC, e em pouco tempo se torna um dos cabeças do Partido dos Trabalhadores. Quando organiza uma greve de proporções gigantescas, é apanhado pela polícia e sofre torturas nas mãos dos milicas. É durante o cárcere que tem uma visão da Virgem Maria dizendo que ele deve espalhar o amor pelo mundo, e então, depois de conseguir um habeas corpus e sair da prisão, junta-se a uma trupe de hare krishnas saltimbancos e começa a percorrer o mundo cantando músicas dos Beatles e fazendo propaganda comunista. Um filme que fala sobre sexualidade, política, desespero e humanismo. Indispensável a qualquer homossexual, marxista, músico e cafetão.
quinta-feira, 7 de maio de 2009
Soneto da Punheta Neo Expressionista
Acho que vim mesmo
do saco do meu pai
Balaio vem, balaio vai
quem é pederasta com convicção
dá o cu ouvindo Steve Vai
Balaio vem, balaio vai,
balaio vem e sacode minhas bolas
contra o vento da Europa Bizantina
me contempla o passado tenebroso
quando eu sonhava em ser enrabado
pelo Bozo.
Balaio fica, Balaio foi
Minha pica é mais saborosa
que carne de boi
Balaio volta, balaio fica
Quem não gostou
que vá comer banana nanica
Balaio vem , volta e faz 69
Quem não gosta de jasmin
devia raspar os pelos da bunda
contemplando a alegria de viver
dizendo "Até segunda" ,
e lembrando em meter no rabo do
filho cisplatino.
De: Aureliano Neves
Extraído do Ensaio
"Futuro que alarga meu rego"
Editora : Mamilos siribrinos
segunda-feira, 4 de maio de 2009
Pintei de azul meus sapatos
& não conhece demora o mar ou os magos que montam todos os fios da atmosfera
minha nuca com hálito de rosa branca até
toda a violência das coisas existindo mais do que nós até você ver
que todo barco está fazendo água
como pela desobediência da sombra
minha janela sustenta as próprias nuvens
mesmo se amoleço os ritos nessa velocidade de mercúrio ou
genitália à mão livre & perco na influência do vocábulo
meu jeito cool de amanhecer.
Soberbíssima, falsas astrologías & salt peanuts.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
KY
de fundar novas mitologias com sexo de papel
então fui à praia
mas tudo acabou em sacanagem
vaga música n.2 se nos oprime qualquer luar imotivado/ minha saliva hard bop/
tem dias que habito vestido de terça-feira chuvosa
& sou bonita com o que Deus me deu & sonho em que areia te captura a sombra/
para vermos o mar nascer/ eu & tu maior que a paisagem.
Soberba de la Flor, com sangue nos olhos, meados de 70.
sábado, 4 de abril de 2009
Arte Poética ou A Dialética do Fazer Bonito
A. Cigano, numa noite malucona de 77
terça-feira, 31 de março de 2009
Miscelânea ou Da Arte de Fazer Visitas
Soberba de la Flor, arrependida de repentino adultério, 76 (?)
Antropometria do Período Azul, mas pode me chamar de Sharlenne
quarta-feira, 25 de março de 2009
Intermezzo
Surrealismo pós-cristão & caos esplêndido
emergindo sintaxe o que antes da vida foi
sono das espécies
Kistch barroco circo estantâneo Carnaval da Síncope
diários sexuais da primeira infância com todo o seu poder
de canção e passarinho.
Porque depuramo-nos
nos cristais do mito: Picarianismo."
GOLDMANN, Chico: "A Morfologia da Macaxeira: Notas sobre O Segundo Manifesto Picariano" In: Alberto Cigano - Literatura Comentada. São Paulo: Abril Cultural, 1987.
segunda-feira, 23 de março de 2009
TIRE O SEU SORRISO
Pedro Gabriel Ferreira
Garanhuns, março de 89
quarta-feira, 18 de março de 2009
The world don't give a shit mas eu canto
jamais inoceânico.
"Estou vivo e escrevo sol."
Meninas banham as pernas/ no lago humilde de minhas palavras & insisto
que não me procures nunca os pés do oráculo.
quinta-feira, 12 de março de 2009
A Origem da Tragédia
para o Nada
(todas as tardes cabem numa tarde se adivinhas
o secreto óvulo das primaveras)
Cigano, harpa de sombras
ensina-me um pecado original nessa tua pedagogia suave
de adolescências depiladas dividindo
o dorso das horas
Te testo, Cigano, com meus seis instrumentos &
esqueço
um brinco no banco do teu carro
Cigano, mi soledad florece.
ah, beber tua boca na minha taça
de gardênias, Cigano, deus-cadela
- manhosa que só ela.
Soberba de la Flor, num espelho de banheiro, outono de 1979.
domingo, 8 de março de 2009
A MACAXEIRA SEMIÓTICA
Quantas batidas do teu coração faz que você não fode?
Uísque escorrendo por trás do teu cabelo úmido
Bitucas & Sofá & A Janela Do Teu Apartamento Mau Iluminado
Tudo isso, tudo isso, é Iluminação, meu amigo.
Eia!
Eia as ressacas matinais e o cheiro acre dos vômitos companheiros manchando aquele teu lençol de seda importada de mil e quinhentos paus!
Eia as berrações e os sussurros estupidamente geniais das bocas sacroprofanas que afloram naquela mesinha escondida no canto esquerdo do Savoy!
Eia as historias de foda regadas a vodka & gargalhadas & declarações de amor patéticas!
Eia Teu Apartamento Mau Iluminado Feijó pagando um boquete em Negão enquanto tu bêbo lascado morrias de ciúmes de ambos!
Eia um volume da Obra Completa do frango do Álvaro de Campos enfiado no cu dos acadêmicos delirantes!
Eia as folhas picarianas ovo direito da literatura moderna!
Eita toda a loucura Eia toda vanguarda Eia toda pornografia Eia!
Eia ... A MACAXEIRA SEMIÓTICA!
Chico,
Destruístes poemas desde sempre
Tua língua corrompeu tantas virgindades
Tua genialidade estampada no teu peito
As métricas da sabedoria destruídas pela tua imagética
A tristeza condenando a vontade
Chico,
Minhas idéias sempre foram parcas e nobres
Pedro e Dedé sempre me olharam com respeito
Você sempre com escárnio
Desafiando meu picarianismo
Chico,
Aquela carta que você enfiou no cu
Um dia há de retornar
Como um dia voltarão toda a sintaxe a métrica
A rima e a melodia
A vergonha e a condenação
E essa nossa luta terá ruído como ruíram todos os grandes
Chico...
Esse mundo é uma merda.
A Macaxeira Semiótica:
Vitória da loucura,
Escárnio do sublime,
Exercício de inteligência & criatividade,
(Maca xeira
Semi ótica)
Cultura fálica,
Representação simbólica,
Freud & Chaplin,
Vanguarda nonsense,
Estilização,
Picarianismo, Putaria ou Merdificação?:
A MACAXEIRA SEMIÓTICA
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
EU VESTIA NELA A MINHA CAMISA FAVORITA
Pedro Gabriel Ferreira
Garanhuns, janeiro de 89
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
A SOCIEDADE ESCARLATE
Heitor de Albuquerque
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Finalmente (A VIRGINDADE ARRANCADA AOS CHUPÕES)
A VIRGINDADE ARRANCADA AOS CHUPÕES
Tortura-me um desejo: acender tua vela/ os olhos furados pela beleza que é a discórdia/ toda essa baixaria que é apaixonar-se/ são cicatrizes, teus pelos pubianos/ queria o sopro da vida de Deus a excitar Adão/ calar teus verbos com humilhação/ Tudo isso, amor, é transferência/ (explica a psicanálise)/ Sou Edipiano, tu és minha Jocasta/ teu diário é o puto do meu pai/ Assim de longe isso parece pieguice/ Esqueceste tuas seringas debaixo dos meus lençóis/ manchados da nossa lama/ Aqueles dias parecem mais claros/ Você fodia quieta quando estava bêbada/ ou o silencio cortava a vergonha de quem não sabia nada/ Amaciaste as carnes da minha inocência/ com a violência dos vividos/ Da alma pequena brotou o fungo da paixão/ O Amor só te fode no rabo/ Se soubesses o quanto eu chorei terias se divertido mais/ Hoje em dia tenho ânsias quando lembro que acreditei naquela velha ideologia nascida das bocetas mau-comidas de princesinhas alvas/ Do romance à psicose:/ se pudesse ver-te novamente, ah!/ te sodomizava/ (vingança)/ Mas ainda assim gozaríamos/ juntos.
Heitor de Albuquerque